Data: 15/08/2015
Horário: 19h30 [término: 21h30]
Local: Encontro na Praça João Luiz Alves ( praça da rua Marília de Dirceu ) | Ação no Bar Tizé – Belo Horizonte/MG
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Este dia fomos ocupar/estar uma região muito badalada por pessoas de alto poder aquisitivo. Neste local não encontramos nenhum negro sentando sendo servido, somente servidor. Compúnhamos a única mesa que em quase sua totalidade era composta por negros. Ao chegarmos, já escutamos de um jovem encostado a uma pilastra: “é arrastão”. Após um rápido aceite do gerente, conseguimos uma mesa e fomos bem atendidos pelo Talles Rolfman, garçom negro. Durante o “pá e bola” trocando idéias no bar e comemorando o aniversario deste que escreve – Felipe -, iniciamos nossa primeira intervenção lendo poesias/textos que foram solicitados aos que participarem do rolezinho daquele dia. Na sequência da intervenção nos levantamos e trocamos abraços entre todos os membros e para finalizar nos levantamos mais uma vez e nos voltamos para fora da roda para olhar o que estava ao nosso redor. Em outro momento, nosso companheiro registrador dos rolezinhos, Paulo, escutou de outro jovem a seguinte frase: “ai essa foto vai sai no Globo Rural?”. Paulo não respondeu e continuou o registro. O que fica deste rolezinho foi a paciência e o poder de estar nos lugares que não somos bem quistos. E estaremos! Nem que seja na voadora de dois pés!
Um efusivo abraço.
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Propositor:
Felipe Soares
Integrantes:
Alexandre de Sena, Aline Vila Real, Danúbia Lage, Dayane Gomes, Elisa de Sena, Felipe Soares, Jésus Almeida, Lucas Marcelos, Mariana Souza, Michele Bernardino, Renato Gualberto, Sabrina Rauta e Talles Rolfman
Registro:
Paulo Oliveira / PROfotografia
Texto lido por Mariana Souza:
Da Paz – Marcelino Freire
Eu não sou da paz. Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça. Uma desgraça. Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator? Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador. Vou não. Não vou. A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo. A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora. Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca. A paz é pálida. A paz precisa de sangue. Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha. Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo. Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou. Não vou. Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços. Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein? Hein? Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, ao lado de polícia. Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no peito. Sem fim. Ai que dor! Dor. Dor. Dor. A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo mundo. Eu matava, pode ter certeza. A paz é que é culpada. Sabe, não sabe? A paz é que não deixa.