Data: 30/08/2015
Horário: 17h [término: 20h]
Local: CentoeQuatro (Janela de Dramaturgia) – Belo Horizonte/MG
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Recebi um convite para participar da mesa “Dramaturgia e Política” na 4a edição do Janela de Dramaturgia. Esta mostra de novos dramaturgos, que acontece desde 2012, é um evento que muito admiro. Como não domino este universo, decidi pedir ajuda aos companheiros de rolezinho para ilustrar a prática cênica discursiva que estamos experienciando. Abaixo o texto apresentado no evento:
fico muito agradecido pelo convite do vinicius e da sara para compor esta mesa. o janela, como chamamos com imenso carinho, é um projeto que eu muito admiro na nossa cidade. muito obrigado também luciana e jésus. espero contribuir.
como é a primeira vez que participo de algo assim, uma mesa, tentei escrever algo que pudesse nos ajudar, me ajudar, a refletir sobre o tema e aproveitei as dicas que o vini mandou por email. eram umas perguntas-guias.
cortázar disse em uma das suas aulas que pra se entender escritor latino-americano era preciso antes inverter a terminologia, era preciso antes ser um latino-americano escritor.
sim, isto me toca.
ser estar, estar e ser.
cita leandro roque, emcida, rapper paulista: “nem todo mundo que tá é, nem todo mundo que é tá.”
bem agorinha, nestes nossos dias, tatiana tibúrcio juntamente com stephane brodt, do AMOK teatro, iniciam estudos corporais que também invertem: de ator negro para negro ator.
aqui, contaminado, reflito (mostrar cabeça e corpo neste momento): artista negrx, negrx artista. caminho em processo de descobrimento desta inversão que também é social. estou/estamos nesta nova articulação, tentando desprender, descolonizar o corpo/pensamento forjado na formação de artista negro.
buscamos entender e reconhecer o verbo aquilombar-se na existência do Teatro Experimental do Negro (criado em 1944 por Abdias Nascimento), no Teatro Negro e Atitude (referência aqui de bh) e em outros grupos de importância na reflexão do negro na linguagem teatral.
negro artista, mesmo não fazendo parte de uma comunidade quilombola, como me aquilombo? como buscar em meus pares – irmãos de cor -, próximos geracionalmente ou antepassados, um aconchego criativo e elementos estéticos que alimentem dramaturgias, performance e reflexões do teatro contemporâneo?
um teatro/dramaturgia/performance combatam os esteriótipos que confirmam, para quem tiver dúvida, o racismo estrutural da nossa sociedade. uma breve ajudinha do anatol rosenvel em seu livro negro, macumba e futebol:
Estereótipos aparentemente positivos: os negros são: simples (portanto, podem viver com menos dinheiro do que os brancos), humildes, dóceis, afáveis (característica positiva, que por outro lado caracteriza a personalidade de escravo ideal), talentoso do ponto de vista musical e da dança (“pode não estar tudo bem com ele, mas vive com mais prazer do que nós”), muito forte (portanto, adequado aos trabalhos mais pesados), religioso (“eles são pobres, mas encontram na fé mais alento que nós no dinheiro”), sensuais, dotados de sexualidade (a mulher negra como objeto sexual do homem branco), emotivos, imaginativos (“eles são mesmo crianças, não podemos levá-los muito a sério”).
ai… (supira) tá bom até aqui! (supira de novo)
mano, mina, sem receita. acredito que o esquema é construir possibilidades de mais gente preta no palco, no público, escrevendo, trabalhando além da operação técnica.
não. esse pensamento não é descoberta da roda, ineditismo ou algo. falar, particularmente falando, sempre me foi um desafio. geralmente somos educados a entrar e sair dos lugares. atualmente, na minha cachola passa o seguinte: se não balança xs parceirxs, se não chocar quem sempre nos acossou historicamente não operaremos nenhuma mudança.
aquilombar-se. junto com as irmã e com os irmão, vou tentando contribuir para a reflexão do cenário negro teatral conemporâneo.
(neste momento, os companheiros do rolezinho tomam o espaço e se colocam frente ao público)
encerrando: um poema de de lepê correia, dentre outras coisas, grande poeta pernambucano – fadas nordestinas:
“eu quero uma história nova
não este conto de fadas brancas e ordinárias
donas de nossas façanhas
eu quero um direito antigo
engavetado em discursos
antigos, paliativos
(cheios de maças e pêras)
bordados de culpas e crimes
eu quero de volta, de pronto
as chaves destas gavetas
dos arquivos trancafiados
onde jazem meus heróis
uma “nova”velha história
cheia de fadas beiçudas
fazendo auês, algazarras
com argolas nas orelhas
de cabelo pixaim
engasgando príncipes brancos
com talos de abacaxi”
muito obrigado.
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Propositor:
Alexandre de Sena
Integrantes:
Adyr Assunção, Alexandre de Sena, Aline Vila Real, Allyson Amaral, Ana Martins, Antônia Marida da Silva, Carlos da Silva, Cauã Breno, Cida Reis, Elisa de Sena, Elizabeth da Silva, Ercilia, Felipe Soares, Luzia, Magna Oliveira, Marley Mendes, Michele Bernardino, Pablo Rodrigues, Rodrigo Jerônimo, Sabrina Rauta, Sarah Sampaio, Sammer Iêgo, Soraya Martins, Tásia d’Paula e Zora Santos.
Registro:
Paulo Oliveira / PROfotografia